quarta-feira, 30 de abril de 2008

TÂNIA DINIZ


Teu bailado em mim
Vai num sopé e venta n'outro.
(eu: entranhas, montanhas.)

terça-feira, 29 de abril de 2008

NEUZA LADEIRA

LUA CHEIA EM NOITE ESCURA

A tela molha amarelos na savana
Abraça o marrom da terra.
No beijo dos amantes o encorpado vinho
Dioniso visita a união vermelha
Da vinha em lua cheia e noite escura
A paisagem o silêncio engole o mutante único
Vivedora cena como galo canta a madrugada
E anuncia o alvorecer de um novo dia.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

GRAÇA GRAÚNA

LEGADO

a grande lua de fogo
revelou a sua face agrestia
e, devagarosamente,
foi indo, foi indo
gravitando
na incandescência.

Com a lua cheia
um véu de estrelas espantou a neblina.

Na agrestidade do ser
cavamos os sonhos
contra a desesperança
que circunda nossas vidas.

domingo, 27 de abril de 2008

MARIA DE LOURDES HORTAS

PRISÃO PERPÉTUA

Então
O masculino Senhor disse:
Vai, Eva, e nutre a vida,
com o suor dos teus sonhos.
Não te esqueças, mulher
que inventaste o amor
e isso é imperdoável.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Contribuição demais!

Pessoal,
hj faço uma pequena pausa na divulgação das meninas da Antologia, para mostrar o trabalho de uma nova, mas muito querida, amiga: Gláucia Salem. Aproveitem as imagens!
um abraço,
Ana Carol



quarta-feira, 23 de abril de 2008

SILVIA ANSPACH

MUSEU

Sarcófagos,
murais,
objetos esparsos,
escassos vestígios.
Tudo passa.
(Sta Tereza?)
Das pegadas de um chimpanzé,
o Homo Sapiens
ensaia
seus primeiros passos.
Nas manchetes do jornal de hoje,
persiste o bruto de ontem.
Do Passado,
o Hoje encena
um (freudiano?) chiste.

terça-feira, 22 de abril de 2008

DAGMAR BRAGA

CONSTRUÇÃO

Lanhada a pedra,
faço-me fio,
partilho, rasgo
entranha e estranho.

Quebrado o leme,
desoriento,
acolho vento,
maré e abismo.

Cavado o poço,
torno-me água,
mão retorcida,
lisura e barro.

Feito o silêncio,
lasso a palavra -
gume sequioso
de outra navalha.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

IARA ALVES

O TEMPO

na cama
os presentes

os presentes
os ausentes

no vaivém
dos minutos

contados
em segundos

um relógio
acumula
o tempo
vencido

a hora que passa
a hora que chega

a festa
o riso
o choro

a vinda
a ida

a hora da partida

domingo, 20 de abril de 2008

ANA CAROL DINIZ

PARALELOS

Sempre ouviu histórias sobre os orientais.
Seu machismo, seu tamanho e tantas outras, ditas com tamanha força, que jamais duvidou. Também nunca cruzou o caminho de um oriental, fosse ele chinês, japonês, nem mesmo um coreano.
Até que, à beira dos 30, se encantou por seu cabelereiro.
Quem diria, um belo japonês, simpático e moderno.
Rendeu-se aos seus olhos puxados e descobriu enfim, que aquelas histórias longínquas não passavam de lendas. Ele, por sua vez, revelou-se um exímio samurai.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

REGINA MELLO

TREPADEIRAS

Tecendo o vestido armadilha
aprisionam os segredos
da velha e despida muralha
que contorna o lugar
onde se esconde minh'alma
Paredes vazias
condenadas
guardam a solitária
escuridão dentro de mim
Caminhos estreitos e tortos
levam-me as rosas negras
que brotam no meu jardim

quinta-feira, 17 de abril de 2008

ELIANE ACCIOLY

A SURPRESA

O gato-maravilha que em mim morreu
muitas vezes retorna,
cara redonda e invisível

Sua sombra errante corre livre
na saudade de bandos vadios
arrepiando as ruas e as paredes
de meu corpo

Intumescente lábio de lua crescente
fixo só na aparência
ri de mim, Alice,
prisioneira dos contrários,
o país dos espelhos
onde me extravio

na aprendizagem banal e mágica
de ser sendo humana

terça-feira, 15 de abril de 2008

CLEVANE PESSOA DE ARAÚJO

DOS CICLOS

Sim, Sim,sim,
cicicicicicicicicici
quais as cigarras repetiriam
prenunciando chuva.
Essa, tem aspecto ruim e bom,
na dualidade de Shiva.
Destruir para re/construir.
Concluir para re/começar...
Shivachuvashivachuvashivachuva...
shshshshshshshshshsshshs
lama de uva
aroma de pétala amassada
semente que incha/eclode
ventos polinizadores,
águas que apodrecem troncos
que viram limo/humus...
A vida a brotar e rebentar
em flor depois...

segunda-feira, 14 de abril de 2008

SIMONE ANDRADE NEVES

TIMIDEZ

move, contida, as ancas
ri, em parcelas
na horizontal, carnaval.

domingo, 13 de abril de 2008

BEATRIZ AMARAL

EVENTO

tome um aquário,
recorte
a nudez -
frase que se inunda
de não-água
na press
ase inscreve
- em líquido –
o flagrante sem peixe,

o estranho de ser fogo
e o resultado dos hífens
tome o desenho
da tocha,
que combustão
se há de

sábado, 12 de abril de 2008

DJANIRA PIO

MORADA

Meu império não tem endereço.
Mora dentro de mim.
E posso estar
em qualquer lugar.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

NAZARETH FONSECA

Alguma coisa em você
me seduz.
Teu pouco espaço de ternura,
tua vontade de ser
o que não quis
(ou não pôde),
o ar sereno tão raro
escondido entre seu medo.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Antologia ME 18 Anos

A partir de hoje, teremos mais uma comemoração aos 18 anos do mural poético Mulheres Emergentes. Serão publicadas neste blog, todas as autoras q participam da Antologia, uma por dia. Queremos compartilhar, as belezas deste livro. Aproveitem!
Ana Carol

VERA CASA NOVA

Abissais

No abismo desses teus olhos
cristalizo meus ais.
Percorro luzes e sombras.
Em cada penumbra
deixo meus delírios
acontecerem.
Abro e fecho portas e janelas.
Esquecer-te?
Impossível jogo: te vejo na luz dessa foto por entre labririntos.
Portas e janelas te esplham
Sou cego de ti.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Lobisomem

Panos rasgados: mordidas intempestivas, beijos vorazes, ataques imprevistos ao ventre.
A língua: escorregadia, espumante de desejos e incontroláveis convulsões.
No quarto escuro: pela janela _ entra a lua cheia.
Ele: flagrado _ em uivos, se perde na planície - aquela -
cambaleia e cai no umbigo dela.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Visita

Abriu a porta e aninhou-a em seus braços. No silêncio da penumbra, deitou-a em almofadas e preparou-a para a viagem. Despindo-a entre beijos, deu-lhe a passagem. Agasalhou-a de carícias e desejos. Um gole de vinho. O coração em desalinho. Corcel de seu corpo em galope pelo céu, domou-lhe a fera, assanhou-lhe o anjo, ergueu castelo e quimera, ao som de banjos. E enfim, plantou-lhe no ventre, copiosamente, em líquido fogo, sua semente. Deu-lhe sentido à vida, inda que sem dores, entre gemidos. E voltaram à terra, novamente. Nuvem de água mansa, na bonança.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

GAIVOTAS SOBREVOANDO O MAR

"Deus, que se arrependeu de ter feito o homem nunca se arrependeu de ter feita a mulher".
(Malherbe)

Dário Teixeira Cotrim

Para mim foi um momento único e, porque não dizer que foi um momento todo especial quando recebi em meu escritório a visita do simpático casal Sebastião Abiceu & Dóris Araújo, trazendo-me uma prometida encomenda da ilustre escritora dorense Tânia Diniz. Era um exemplar da Antologia ME-18. Depois de uma minuciosa leitura não tomei por norma os entrechos sobre as possíveis confissões intimas e nem sequer os conceitos intrínsecos sobre algum movimento feminista versificado. Limitei-me tão somente a apreciar a beleza dos versos apaixonados que colocam o amor-solidão em questão nivelada não apenas das autoras, mas do leitor com os seus conceitos e preconceitos. É que temos neste livro as maiores expressões de toda uma geração de poetas emergentes.

Uma ressalva é obrigatória nesta edição da Antologia ME-18: não é, todavia, a exclusividade da figura feminina que em nada disso tira o mérito da presente obra, muito pelo contrário, a valoriza com muito mais expressão. Entretanto, devo dizer sem nenhum constrangimento que houve um pequeno descuido na escolha da letra utilizada no itálico superior de suas páginas, onde nos mostra os nomes de suas autoras. Você há de convir comigo que essas letras deveriam ter tamanho maior para uma melhor visualização dos leitores mais idosos. Isso é apenas um detalhe, sem muita importância, mas que deve ser registrado.

Por outro lado, quem lê e conhece as autoras desta obra, vê diante de si uma literatura madura e recheada de belíssimas construções literárias. É verdade comprovada que a sensibilidade feminina torna-se um fator importante para renovar e/ou modificar a beleza dos versos. É através de uma mistura de imaginação e realidade que as mulheres conseguem imprimir nos seus sonhos poéticos o desejo da plena felicidade do eu. Entretanto, para os homens, é preciso que prestem um pouco mais de atenção ao inútil, à fantasia individual e a força arrebatadora dos preconceitos machistas ainda existentes na nossa sociedade. Na poesia feminina as palavras pulsam com intensa vitalidade como que tocadas por uma força incomum das almas. As suas poesias assumem ares de delicada fascinação numa forma mágica que brota do sutil toque da imaginação.

Não é por acaso que a poesia feminina é livre e é bela e, acima de tudo, é direcionada para aqueles que se amam com a arte da sensualidade, dentro e fora, da ambiência amorosa. Também não é por acaso que a poesia – em todos os sentidos – está intimamente ligada ao amor e, por sua vez, à beleza física e espiritual da mulher, esta divina criatura inspiradora de tantos livros poéticos existentes pelo mundo afora e indeléveis nos corações e nas mentes de todos nós. Porque, "em Mulheres Emergentes era muito mais que apenas um mural de poesia. Era, na verdade, um projeto de vida de sua idealizadora – Tânia Diniz – a mineira de Dores do Indaiá, que desde então tem o seu nome inscrito em nossos corações e em nossa historia cultural". (Constância Lima Duarte).

A violência contra a mulher, como se sabe, hoje ela está em todas as formas de expressões literárias e em todas as estruturas do pensamento poético. Assim, para escapar à realidade brutal dessa existência, acende nesta Antologia ME-18 uma espécie de poesia-realidade, soltando do alto das letras o seu pocema esperançoso. Agora são dezoito anos de lutas onde a esperança tem um braço no céu e outro aqui na terra. Ainda assim, disse-nos a ilustre escritora Raquel Naveira: "mudei minha rota: agora sou gaivota sobrevoando o mar". Parabéns, Mulheres Emergentes!

Dário Teixeira CotrimInstituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais
Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
Academia Montesclarense de Letras

domingo, 6 de abril de 2008

ME no ar...

Queridos amigos, leiam e opinem sobre o artigo de GRAÇA GRAÚNA sobre o ME.
http://www.interpoetica.com/index.htm


"Tânia, a matéria está na altura do seu valor. Parabéns. Com carinho,"
Rogério Salgado - bh-mg


"Tânia, acabei de chegar de viagem e tenho a alegria de poder ler este artigo da Graça Graúna. Um esforço, um empenho reconhecidos e estimulados, o que, é claro, não pode faltar para tão árduo e importante ofício. Nós poetas temos que agradecer aos que trabalham como você. Abraço carinhoso."
Elizabeth Gontijo  -bh-mg
"Caríssima Tânia:
... O ME 18 ficou realmente uma beleza, um encanto. Por inteiro. Superou todas as minhas expectativas. Trabalho digno de louvor e respeito. Você demonstrou mais uma vez competência e sensibilidade no trato para com o Poético. Parabéns!!!
Estou degustando bem devagarinho. Quero sentir os diversos cheiros e sabores do nosso Livro.
Li os textos da Graça Graúna e do Amigo Dário Cotrim, muito bons."

Doris Araújo   - poeta,- Montes Claros - MG
"Querida Tania:
Sempre é muito bom ver reconhecidos nossos esforços poéticos. O artigo de Graça Graúna é super merecido quando fala de sua persistência. Nós da Cigarra chegamos aos 25 anos, esperamos que ME chegue lá e adiante"

Jurema/ A Cigarra   -
Jurema Barreto / revista A Cigarra - SP-SP
"Querida Tânia...
O blog é lindo! Lindos os seus poemas... Porém, mais lindo ainda é este presente de sua filha. Tenho um filho webdesinger que fez meu site. Já o visitou? Entra lá pra você ver que lindo ele é: www.letraporletra.com.br Veja que bela a música de fundo que ele escolheu... "

Leila Brito  - poeta, cantora - BH-MG

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Não resisti ...

"Cara Tânia, agradeço-lhe a gentileza de me enviar a bela antologia pela Conceição Abritta. Parabéns pela realização da mesma! Ficou belíssima! Vê-se que foi feita com carinho e esmero. Um grande abraço da Auxiliadora Lago"

Ouro Preto

Na esquina, sob o antigo lampião, ele vendia um tabuleiro de estrelas.
Na janela, ela mordia sonhos desfeitos e lambia lábios e dedos. Singela.
A velha lua, em serenatas, de sentinela.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Ausência e boas novas...

Pessoal,
desculpem o sumiço, mas a correria está grande..

Reapareço, com mais elogios e pra matar a saudade, um haicai de Tânia Diniz.
Boa leitura! Ana Carol

"Querida Tânia
Seus textos são sempre encantações porque nos pegam na esquina da surpresa. E a gente fica feliz de dar de cara com a beleza. Só posso dizer que o quiabeiro está frondoso das mais belas flores. O lançamento da Antologia foi mais uma de suas mágicas.
Um beijo e muitos augúrios para a Peixinha.
Lúcia Fabrini" sp-sp


luz poente se faz
- seu jogo: a folha reflete
vaga-lume de fogo 
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