quarta-feira, 10 de setembro de 2008

PANDORA

O prédio onde morava tinha severos regulamentos, sendo um deles, o silêncio após as 22 horas. Ao apertar o dedo na porta com violência, quisera gritar de dor como louca. Correu ao armário, pegou sofregamente a caixinha que seu pai lhe dera em criança, e mais uma vez levantou ligeira a tampa, soltou o grito lá dentro e fechou-a rápido.
Mais tarde, em crise de sonambulismo, abriu a caixa e os gritos, há tanto ali contidos, ecoaram em tremendo berro que quebrou as vidraças e correu pela noite como uma sirene, até cair numa boca-de-lobo e morrer-lhe na garganta.