domingo, 19 de julho de 2015


Divido com vocês, um presente maravilhoso da amiga artista plástica Selma Weissmann
que assina a capa da Antologia ME 18, publicada quando
Mulheres Emergentes completou 18 anos. Selma  ilustra meu conto A Matriarca, para meu deleite! 
Bom domingo!!! Bom dia!!!



A Matriarca  - tânia diniz

                                          Imagem: Selma Weissmann – BH – Julho.15


                                  A Matriarca



Dominando a grande sala, sentada em sua enorme cadeira maciça, de pernas altas e alto espaldar, ornada de belas figuras entalhadas na madeira, a Grande Mãe, toda nua aconchegava em seu seio esquerda uma criança menor. Loura e pálida, esta filha se alimentava sugando sonhos, muito carinho, afagos e carícias. Na hora do almoço, já lhe escorriam pela boca sensualidade e preguiça. Muita preguiça, até de pensar. Com os olhos nublados de sonhos e distração, dormitava, sempre unida à grande teta. Ao seio direito, uma criança maior, morena e de delicada aparência, se nutria de inteligência, aguda percepção e sensualidade. E ao almoço, esta filha já se aconchegava mais e sugava com força: agressividade, impaciência e irritação. Ás vezes, lambia os lábios, ao escorrer algum gosto pela dança ou por algum idioma. E a Mãe Grande acalentava-a com olhar de bonança ou com um afago da vasta e meiga mão. Em certos horários, vinha o Pai. E sugava ora cada seio e se nutria de todas as necessidades: or lambia sexo, ora babava dinheiro, ás vezes estalava os lábios em descobertas, ou chupava, prazeroso, compreensão. Houve tempo, outrora, que se nutria só de beleza e aspirações. E a Mãe o olhava benevolente, em seu regaço. Ás vezes, vinham alguns vizinhos, sugavam alguma atração, alguma inveja ou algum prazer e logo se iam, satisfeitos. Às vezes, alguém desejava tristeza, e vinha ao crepúsculo. Quando vinha alguém mais chegado, talvez membro da família, se satisfazia ora em cada seio e saboreava finos e raros paladares: como doce sintonia de alma, como pura alegria de viver. E a todos a Grande Mãe sorria e acalentava, semicerrando os olhos muitas vezes e se lembrando de sua primordial fonte de energia, onde não se recordava mais de há quantos milênios se iniciara na arte da Grande Alimentação. Revia a luz e o lado escuro do Poço Mágico do Tempo Eterno. E revisava seu mosaico, controlava seu interno caleidoscópio e suspirava prazer em sua Unidade, jorrando a Identidade de seu Eterno Manancial.  
                                                                                           Tânia Diniz



Chau...

Um comentário:

Eliane Accioly disse...

Delicioso o conto. E a ilustração! Parabéns!