terça-feira, 11 de agosto de 2015

A Saga ME - Mulheres Emergentes  Parte 2 . 2 

Ano 3     No. 10       Jun Jul Ago 1992                  1.000 exemplares  





Vozes da mulher

A voz feminina demorou muito para se fazer ouvir. É só dar um passada pela antropologia e pela psicanálise para se perceber que a falocracia está nas origens mesmas da sociedade. Lévi-Strauss mostrou como se deu a inserção social nos tempos primevos. Tudo decorreu da passagem do animal à emergência do ser humano, momento em que a proibição do incesto fez-se uma regra básica de comunicação, na medida em que estabeleceu, a partir do que era proibido ou permitido, os elos entre pessoas de famílias diferentes. 
É por aí que se pode perceber como a troca de mulheres, essência da proibição do incesto, comandou processo de interação entre sujeitos, marcando o modo como se estabeleceram os movimentos fundadores das relações sociais. Esse é também o cenário que Freud pôs em circulação ao criar o  mito do pai-totêmico, muito bem exposto no seu Totem e Tabu.
Mas como adverte Lévi-Strauss, a troca de mulheres não se faz impunemente. Ela ocorre a partir de um pacto singular em que dois homens agenciam uma troca, numa prática  específica em que um renuncia à fêmea de sua família a favor de um outro que a reivindica. É nesse movimento desproporcional, nesse dois a um, que tem início a sociedade organizada. Lévi-Strauss destaca que não há qualquer impedimento para que, ao reverso dessa postura, fossem as mulheres que trocassem os homens, mas o fato é que em todas as sociedades as trocas se fazem com a predominância do masculino. E é aí que nasce o patriarcado, uma instituição que instaura valores pétreos através dos quais se dá a condução da sociedade, marcada no domínio e na opressão feita contra a mulher.
Esse cenário é também discutido pela psicanalista neozelandesa Juliet Mitchel, no seu Psicanálise e feminismo. Apontando todos os problemas advindos do patriarcado com instituto das relações sociais, Mitchel destaca que a superação do domínio do homem poderia desaparecer se se criassem novos processos de inserção social, vale dizer, se a organização social se fizesse sem a troca de mulheres. Mesmo advertindo que isso seria algo de projeções indefinidas e não muito claras na atualidade, a psicanalista chama a atenção para que se criem projetos que representem um movimento de superação. Um dos pontos que serve como aceno para essa proposta é dada por Mitchel quando fala da necessidade de uma revolução cultural e isso implica a necessidade da mudança de um sistema que só terá chance de ocorrer se entrar em cena uma prática política. Mas essa prática não será suficiente em si mesma se não for sustentada em uma teoria. Supõe-se que esses aspectos estejam em construção conforme se pode ver em inúmeras
manifestações, ações e propostas que vêm se fazendo nos últimos tempos. Isso significa que a demora em se ouvir a voz feminina, tal como se colocou no início deste texto, hoje ganha projeções animadoras para que essa voz alcance a escuta em alto tom. E se a mudança da inserção social é algo difícil de ser vislumbrado hoje, nos termos de se abolir a troca de mulheres,  que pelo menos uma sociedade não patriarcal seja viável a partir de uma proposta que promova a entrada na cultura, organizada diferentemente das implicações que hoje sustentam o mecanismo da troca de mulheres. Isso pode ter êxito quando se pensa que tal ação se conduz de forma a aninhar seus predicamentos nas profundidades do inconsciente. Seria oportuno, então, citar textualmente a colocação de Juliet Mitchel: “As mulheres devem se organizar enquanto mulheres, para mudar a ideologia fundamental da sociedade humana. Para ser efetiva, essa ação não pode ser uma oposição dirigida simplesmente contra a dominação do homem (embora isso desempenhe um papel tático). A luta deve ser fundada numa teoria que mostre que nessa etapa, as leis instituídas pelo patriarcado não são socialmente necessárias”. Acho que esse Mulheres Emergentes é uma contribuição que se oferece para discutir e buscar alternativas nesse cenário ora vivenciado.
É o que se pode ver com os vinte e cinco anos dessa publicação produzida por Tânia Diniz,  reveladora de alternativas importantes para se pensar e discutir, com fundamentos, a candente questão de gênero".

                              
    Audemaro Taranto Goulart   
        Professor do Curso de Graduação e do Programa de Pós-graduação em Letras da PUC Minas.  




Ler Mulheres Emergentes, pra mim, é poder acessar conjuntamente a mais fina inteligência e a mais delicada sensibilidade. A Deusa da Sabedoria começou a me visitar mais constantemente a partir daquela doce, sublime e provocativa publicação.

                         Marcos Fabrício
                            BH - poeta, professor e jornalista.



Editorial – Tânia Diniz
Ilustração : Zé Baliza e Alexandre Drummond – BH – MG
                 Foto: João Evangelista Rodrigues – BH

Frutos e flores – Marina Colasanti – RJ- RJ
Auto-retrato  - Lídia Avelar Stanislau – BH- MG
Minha porção mulher... Bené Fonteles – Brasília – DF
Súbito, senti de longe...  Yara Shimada – SP
Carta dum contratado – António Jacinto – Angola
Plena floração.  ...  Áurea de Arruda  Féres – SP
Hortelã – Eliane Fonseca – SP –SP
As mulheres são irmãs das frutas... João Evangelista Rodrigues -  BH 
Concretização do desejo, volúpia de formas... - Tânia Diniz - BH
Sábado – Bruna Lombardi – RJ-RJ
Puberdade – Abel  Pereira – Ilhéus – BA
Ensaio de verão – Áurea Domenech – RJ
Noiva – Zé Baliza – BH
Instante eterno – Teresa Julieta Andrade – MG mora RJ
I)Sumo de verão  - Antonio Barreto – Passos, mora BH-MG
Fadário – Rosa  Angela  Fontes – Poa –RS
Brinquedo de sol – Heliana Barriga – Castanhal – PA
Presa – Graciela Santos – Salvador - BA

Editorial

Depois de tantas cores, suave outono, flores de maio. Depois de reflexos azuis do céu nos olhos, o ar puro nos reveste o coração de verde esperança. Ecos (92?) da Natureza. A poesia continua a nos visitar, trazendo fé num mundo melhor, acreditando que o inverno vai passar e que as flores retornam com mais perfume. Quando setembro vier. E o próximo ME.
                                                                                                         a editora



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